E atuo como scrum trainer e agile coach no Brasil e em outros países também. Neste curso, eu gostaria de falar um pouco sobre o papel do agile coach, qual a diferença do agile coach para o scrum master, para o agilista, o que significa cada um desses nomes, qual a origem do agile coach, como ele surge, de onde ele vem, que tipo de aprendizado ele precisa ter para se tornar um agile coach.
Vamos falar também sobre o DNA dele. O que precisa ter para ser um agile coach, quais as características, como ele atua dentro da organização. Vamos falar do mindset agile, um pouco da cultura organizacional, como mudar o comportamento das pessoas dentro de uma empresa para poder caminhar na direção da agilidade.
Também vamos falar do relacionamento do coach com a empresa. Quando um agile coach vai trabalhar em uma empresa, que tipo de trabalho ele faz, o que ele deve fazer, o que pode dar certo, o que pode dar errado, com o que ele tem que ter atenção.
Depois, vamos falar da remoção de barreiras, que é um dos trabalhos que o agile coach tem que fazer, facilitar a remoção de barreiras. Vou ensinar uma técnica interessante para facilitar essa remoção.
Vou falar também sobre técnicas de aprendizagem, já que o agile coach precisa promover o aprendizado constante dentro da empresa. Vou ensinar maneiras de como ele pode facilitar essa aprendizagem.
Vamos falar depois de melhoria contínua. Vou contar uma história bem interessante para vocês sobre a origem da melhoria contínua, o que acho que vai facilitar entender como podemos promover a melhoria contínua dentro de uma empresa.
Por último, vamos falar sobre engajamento. O que o agile coach precisa fazer para que as pessoas dentro da organização façam parte da mudança, ao invés de só assistir a mudança acontecer. Para finalizar, vamos falar sobre a carreira do agile coach, o que ele pode fazer para se tornar um coach melhor, quais opções ele tem, que tipo de trabalho ele pode executar e o que ele pode buscar nessa carreira.
Vamos começar a falar um pouco mais sobre o agile coach. Quem é ele? Qual a diferença do agile coach para o scrum master, por exemplo? Essa é uma dúvida que costuma surgir bastante.
Antes de entrar nisto, vamos falar sobre o agilista. Quem é ele? É o praticante das metodologias ágeis. Às vezes é até um entusiasta. É uma pessoa que prática. Não necessariamente precisa atuar como scrum master ou agile coach, mas ela tem esse espírito ágil, a vontade de entregar o que tem mais valor primeiro e o hábito de se trabalhar em pequenos ciclos, obtendo feedback do cliente e utilizando-o para trabalhar no valor do restante do produto.
Esse é o agilista. O scrum master é um papel específico do framework scrum. Às vezes, o papel dele acaba se confundindo um pouco com o do agile coach. Existe uma grande interseção entre o trabalho de um scrum master e o trabalho do agile coach. Ambos trabalham para fazer a empresa funcionar de forma mais ágil. O que muda é que temos todo um espectro onde o agile coach e o scrum master atuam na equipe e na organização.
No scrum master, o que vai mudar é o foco. O foco do scrum master é mais voltado para a equipe. Não significa que ele atua só com a equipe, mas é o foco dele. O scrum guide fala que um dos trabalhos do scrum master é fazer coaching com a organização. Essa é uma das funções, atribuições do scrum master.
Muitas empresas contratam o scrum master e limitam a atuação dele para minimizar essa interseção que existe com o agile coach. Isso é extremamente danoso. Faz parte do trabalho do scrum master conversar com a organização. Ele não precisa pedir autorização ao agile coach para resolver um problema. Os dois podem atuar em conjunto.
Outra diferença está no nome. Scrum é um framework ágil. O scrum master é especializado nesse framework. Ele pode conhecer outras metodologias, pode inclusive aplicar conceitos delas junto à equipe. Mas o agile coach precisa conhecer um pouco mais de outras metodologias para saber também aplicar o remédio certo para a doença certa.
Outro conceito que vejo muito e que é bem errado é que o agile coach é uma evolução do scrum master, que o scrum master é um agile coach júnior. Não. Em hipótese alguma. São duas funções distintas. São parecias, porque envolvem remover barreiras, fazer coaching para que a organização se torne mais ágil, mas um tem um foco em um, dois, três times no máximo em específico, enquanto o outro tem um foco um pouco mais amplo.
Não significa que um é chefe do outro ou que o agile coach sempre tem mais experiência que o scrum master. São funções distintas.
Eu gosto de explicar agile coach e scrum master da seguinte forma. Imagine que você vai à academia. É verão, está na hora de fazer exercícios. Você tem um instrutor da academia, que é aquela pessoa que te orienta, dá dicas e está sempre conferindo todos os alunos, olhando equipamento, conversando com a diretoria da academia. E você pode ter seu personal trainer, que você leva para a academia, ele faz as mesmas coisas que o instrutor faz, mas ele tem um foco em você. E os dois podem coexistir. Você pode ter um personal trainer e um instrutor da academia no mesmo ambiente.
O personal trainer faz um papel parecido com o do scrum master. Ele está ali para ajudar, mas o foco dele é em você. O instrutor da academia já é algo mais parecido com o agile coach. Ele te ajuda, vai remover impedimentos, mas o foco dele não é só você. Ele pensa na organização como um todo. Não que o scrum master não pense. É uma questão de foco. É onde o trabalho dele tem que ser efetivamente realizado. Se ele tiver duas atividades, ele vai focar em uma ou na outra.
Essa é a diferença. E dentro da categoria de agile coachs também existe essa diferença. Existem agile coachs que trabalham mais voltados para os times e agile coachs que trabalham mais voltados para a organização, em que também existe esse conceito de hierarquia que não é verdade. É mais uma questão da pessoa se identificar e gostar do trabalho que ela está realizando.
Uma atividade que todo agile coach tem, independente de trabalhar mais voltado para a organização ou para o time, é o trabalho de remover barreiras. Facilitar a remoção de barreiras.
Por que facilitar a remoção de barreiras? E por que não falar “remover”? Porque remover parece algo muito ativo. Ele vai lá e remove. Ele pega a barreira, carrega ela e leva para fora da empresa. Não é bem isso. A ideia de facilitar é tentar dar os meios para que aquela barreira seja removida pela organização. Se o agile coach pega a barreira e remove, na próxima vez que uma barreira surgir vão contar com ele para remover também.
O trabalho que ele está executando, um trabalho de promover a melhoria dentro da empresa, fazê-la caminhar em direção à agilidade não está sendo bem-feito. Ele está criando uma dependência da empresa com o trabalho dele. Ele está ali para facilitar. Ele vai tentar fazer com que aquela barreira saia dali sem necessariamente carregá-la. É aquela história de dar o peixe e ensinar a pescar. O agile coach vai ajudar a ensinar a organização a pescar. Ou talvez não ensinar diretamente, mas fazer com que a organização descubra a melhor forma de tirar o peixe da água. Esse é o trabalho dele.
É fundamental lembrarmos essa diferença do scrum master para o agile coach e quebrarmos esse mito de que um é uma progressão de carreira do outro. Não é. São atividades diferentes. Falar que um scrum master tem que evoluir para um agile coach é como se pegássemos alguém de uma área técnica e promovêssemos a pessoa para uma área gerencial. Existem pessoas que gostam de trabalhar diretamente com o time, de se sentirem mais próximas, criar elos mais fortes. E existem pessoas que gostam de trocar de equipe, ter um foco diferente. Vai muito da adaptação e da habilidade natural que essa pessoa tem para tratar determinados assuntos.
Fazer coaching com uma equipe exige uma abordagem. Com a organização é um pouco diferente. Cada um vai encontrar seu lugar na hora de trabalhar com agile coach.
Agora precisamos falar de onde vem o agile coach, de onde ele surge. O que uma pessoa faz para se tornar agile coach? De onde ela saiu? Quais os passos que ela deu para se tornar agile coach?
É muito comum vermos scrum masters se tornando agile coachs, porque o scrum é a framework mais utilizada. Existem muitos scrum masters. E eventualmente ele trabalha em uma equipe, depois trabalha em outra. Ele gosta daquilo, gosta de ensinar as pessoas e se retirar. Não quer ficar tão apegado a uma equipe só. Gosta de ser um polinizador.
O agile coach tem essa característica. Ele pega um pouco de conhecimento de um lugar, leva para outro, vê um pessoal fazendo uma prática de uma forma, sugere essa prática para outra equipe. Às vezes dá certo, às vezes dá totalmente errado, porque as equipes são diferentes, as pessoas reagem de forma diferente a alguns tipos de técnicas.
O que o agile coach está sempre fazendo é visitando equipes, tentando ocasionar alguma melhoria ali, facilitar um processo de melhoria. Ele aprende com isso e leva para outro lugar. Ele está sempre aprendendo. Isso é fundamental.
A origem do agile coach pode também ser alguém que trabalha dentro da equipe de desenvolvimento, e que começa a perceber os valores das mudanças ágeis, pessoas que trabalham, por exemplo, em uma equipe muito tradicional, em uma metodologia bem Waterfall, com aquele processo de levantamento de requisitos e análise bem maçante.
Essa pessoa muda, começa a perceber que a equipe começa a trabalhar de forma mais ágil, entregando sempre para o cliente alguma coisinha. Tem release toda semana, ou a cada duas semanas fazemos uma release. E aí a pessoa começa a enxergar valor nisso e fala “opa, quero ensinar outras pessoas que vejo, que estão fazendo a coisa de um jeito diferente. Quero ensinar essa forma para elas”.
Ela começa a estudar, obviamente. Já tem um pouco da prática. E aí se torna agile coach. É fundamental o agile coach ter esses dois conhecimentos. O teórico e o prático. É legal ele ler bastante, estudar muito. Faz parte do processo de surgimento do agile coach. Além de ler, também ir em eventos, porque nós trocamos muita informação.
Da mesma forma que eu falei que o agile coach é um polinizador, vai de uma equipe à outra, leva conhecimento, traz conhecimento, aprende, ensina, facilita o aprendizado a acontecer, os eventos ágeis também são muito importantes para ter essa troca de experiência. Essa troca de experiência entre agile coachs, ou entre agile coach e scrum master.
Ele sai de um evento, ou depois de ler um livro, estudar alguma coisa, com experimentos para se fazer. Ele pode começar a testar algumas coisas para ver se dá resultado naquela equipe. Esses eventos vão dar esse material para o agile coach fazer o experimento. Através do experimento, ele vai aprender muito sobre as equipes com as quais ele trabalha e vai poder levar esse conhecimento para outros lugares.
Estou falando muito de equipe, mas o agile coach também vai trabalhar com organizações. É muito importante lembrar disso. Muitas vezes a equipe pode requerer menos do agile coach, já está em um nível de maturidade um pouco melhor, um pouco maior, e a organização está precisando passar por mais mudanças. Então, o agile coach vai de deslocar um pouco mais para lá. Isso ele também vai ver em eventos, livros, meetups.
Essa questão do experimento é algo que vai ajudar muito a formar o agile coach. Se ele tiver só o conhecimento teórico, ele não vai estar pronto para conduzir situações mais críticas, como conduzir uma retrospectiva chave, uma retrospectiva que exige um pouco mais de delicadeza. É importante ter essas técnicas de facilitação sempre na manga para conseguir contornar situações que podem aparecer.
Então, a origem do agile coach é essa. Ele geralmente surge como um agilista, alguém que gosta da agilidade. Começa a ir a eventos, ler livros, desperta o interesse. Eventualmente trabalha com aquilo. Mas se ele adquire primeiro o conhecimento teórico para depois ter o prático ou o contrário não vai interferir tanto na qualidade do trabalho dele. Mas é de fundamental importância que ele tenha os dois. E obviamente, o interesse em aprender coisas novas, principalmente porque muitas das coisas que o agile coach começa a fazer são técnicas de facilitação que eventualmente podem ficar batidas. Quando isso acontece, ela já não tem mais o mesmo efeito. Ele tem que sempre estar procurando algo novo.
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