O que é Security By Design?
Introdução
Uma fábrica fictícia chamada ACME produz carros há muitos anos. Nos primeiros anos, apesar de já ser a líder do mercado, ela recebeu muitos processos pois os carros tinham um chassi fraco que quebrava facilmente quando haviam colisões. A fábrica resolveu então colocar um chassi mais forte. Pelos próximos anos, ela ainda recebia processos, dessa vez porque o vidro quebrava com o calor e acabava machucando os passageiros. Então um vidro mais forte foi colocado. Depois, perceberam que as rodas entortavam em estradas com buracos. Corrigiram então as rodas, e assim por diante.
Nesse meio tempo, uma concorrente entrou no negócio e, apesar de ter demorado um pouco para lançar o primeiro carro, ele já era bem mais seguro que o da ACME, com chassi, vidros, rodas, e demais itens muito resistentes. Essa concorrente logo ultrapassou a ACME, mostrando que o melhor jeito de colocar segurança em um produto, é fazer isso lá do comecinho, ou seja, colocando a segurança no desenho do produto.
Nesse artigo, vamos aprender sobre segurança by design na indústria de software, ou seja, como incluir segurança no projeto de sistemas de software.
Os problemas de deixar a segurança pra depois
O desenvolvimento de software é um processo complexo, e muitas vezes a segurança não é uma prioridade desde o início. Isso acontece por várias razões. Por exemplo, equipes de desenvolvimento podem estar sob pressão para lançar produtos rapidamente para competir no mercado, levando a um enfoque maior em funcionalidade e desempenho do que em segurança. No entanto, deixar a segurança como uma reflexão tardia pode trazer sérias consequências.
Por exemplo, considere um aplicativo de mídia social que, devido à pressa em lançar e atender à demanda do mercado, negligenciou a segurança de dados. Poucos meses após o lançamento, um grupo de hackers explora uma vulnerabilidade e obtém acesso a dados pessoais dos usuários. Neste cenário, a empresa pode perder a confiança de seus usuários, sofrer danos à sua reputação e ter que lidar com ações legais e multas. Este cenário poderia ter sido evitado se a segurança tivesse sido incorporada desde o início do desenvolvimento.
Deixar a segurança "pra depois" na criação de software pode resultar em maiores custos e riscos. Isso porque corrigir vulnerabilidades após o desenvolvimento do software tende a ser mais caro e demorado, sem mencionar o potencial dano reputacional e legal que uma violação de dados pode causar.
Além disso, um sistema que não foi projetado com a segurança em mente desde o início pode ter falhas estruturais que o tornam mais suscetível a ataques. Isso porque a segurança não é apenas sobre corrigir falhas individuais, mas também sobre projetar o sistema como um todo para resistir a ataques. Sem um enfoque na segurança desde o início, é fácil perder de vista o quadro geral e acabar com um sistema que possui fraquezas estruturais de segurança.
Descubra, a seguir, uma forma de tornar seus projetos mais seguros levando em consideração o problema proposto.
Colocando o Security By Design em ação
Uma abordagem para resolver esse problema é o Security by Design. Nela, a segurança é integrada em todas as etapas do ciclo de vida do desenvolvimento de software, desde o início. Essa prática proativa permite que as organizações identifiquem e corrijam vulnerabilidades de segurança antes que elas se tornem um problema, minimizando o risco de violações de dados.
Existem vários princípios centrais que orientam a abordagem do Security By Design. Um deles é o "princípio do mínimo privilégio", que defende que um usuário ou programa deve ter apenas os privilégios necessários para realizar sua tarefa, e nada mais. Isso reduz o risco de que um invasor possa explorar privilégios excessivos para causar danos.
Outro princípio importante é a "defesa em profundidade". Isso significa que o sistema é protegido por várias camadas de segurança, de modo que se um invasor conseguir violar uma camada, ainda terá que lidar com as outras.
Um terceiro princípio é a "falha segura". Isso significa que se o sistema falhar, ele deve falhar em um estado seguro. Por exemplo, se um sistema de autorização falhar, ele deve negar todas as solicitações de acesso até que o problema seja resolvido.
Esses princípios, entre outros, ajudam a orientar o processo de desenvolvimento de software, moldando a maneira como o sistema é projetado e construído. Com o Security By Design, a segurança não é uma reflexão tardia, mas uma parte integral de todo o processo de desenvolvimento. Isso resulta em software mais seguro, que é mais resistente a ataques e melhor preparado para lidar com as ameaças à segurança em constante evolução.
Note que o Security by Design se assemelha a outro contexto, o Secure Software Development Life Cycle (SSDLC) (acesse o artigo sobre SSDLC). Ambos enfatizam a importância de considerar a segurança desde o início do processo de desenvolvimento.
Entretanto, enquanto o SSDLC é um modelo que define práticas específicas de segurança para cada fase do ciclo de vida do desenvolvimento de software, o Security by Design é um princípio geral de design que pode ser aplicado em muitos contextos diferentes, não se restringindo apenas ao desenvolvimento de software. Ambos se complementam, e a utilização conjunta dessas abordagens pode fortalecer significativamente a segurança de um sistema ou aplicativo.
Na sequência, entenda as principais vantagens de aplicar essa abordagem no desenvolvimento de software!
Vantagens do Security by Design
O Security By Design traz uma série de benefícios que podem melhorar significativamente a segurança do software:
Em primeiro lugar, ele permite que as organizações identifiquem e resolvam os problemas de segurança mais cedo no processo de desenvolvimento. Isso não apenas torna a correção mais barata e eficiente, mas também reduz a probabilidade de que as vulnerabilidades de segurança se tornem um problema após o lançamento do software.
Além disso, o Security By Design torna um software mais seguro por sua própria natureza. Quando a segurança é integrada em todas as fases do processo de desenvolvimento, desde a concepção até a manutenção, cada decisão de design e implementação é informada por considerações de segurança. Isso significa que a segurança é incorporada na própria estrutura do software, ao invés de ser implementada como um adendo.
Em comparação com a abordagem tradicional de adicionar segurança após o software já estar desenvolvido, o Security By Design é notavelmente mais eficaz. Isso porque a adição posterior de segurança muitas vezes é insuficiente para corrigir vulnerabilidades inerentes ao design do software, e pode ser extremamente custosa e demorada. O Security By Design, ao contrário, procura evitar tais vulnerabilidades desde o início, resultando em um software mais seguro e resistente.
Em resumo, podemos afirmar que o Security By Design não só melhora a segurança do software, mas também economiza tempo e recursos, especialmente no longo prazo.
Com todas essas vantagens, você pode estar se perguntando: “E como eu posso aplicar de fato o Security By Design?”. É isso que você irá conferir no próximo tópico!
Implementando o Security By Design
A implementação de Security By Design pode parecer uma tarefa complexa, mas pode ser dividida em passos gerenciáveis. A seguir, apresentamos um roteiro básico para colocar o Security By Design em prática:
1) Planejamento e design: No início do projeto, é crucial considerar os requisitos de segurança do software. Isso pode envolver a realização de uma análise de risco para identificar as possíveis ameaças e vulnerabilidades que o software pode enfrentar e decidir sobre as medidas de segurança necessárias para mitigá-las. Aprenda mais sobre análise de risco no nosso curso sobre Modelagem de Ameaças. Durante o design do software, a segurança deve ser uma consideração chave em todas as decisões de design.
Exemplo prático: ao desenvolver um aplicativo de e-commerce, por exemplo, é crucial planejar como o software irá lidar com dados sensíveis do usuário, como informações de pagamento. Poderiam ser consideradas soluções como a tokenização dos dados do cartão de crédito ou a implementação de criptografia de ponta a ponta.
2) Desenvolvimento: Durante a fase de desenvolvimento, os princípios de segurança devem ser seguidos rigorosamente. Isso pode incluir práticas como a programação defensiva, a validação rigorosa de entrada e o uso de componentes de software comprovadamente seguros.
Exemplo prático: continuando com o exemplo do aplicativo de e-commerce, a validação de entrada pode ser usada para prevenir ataques como injeção de SQL nas funcionalidades de busca do site. A programação defensiva também pode ser empregada para garantir que o software continue funcionando corretamente mesmo em condições inesperadas, como uma interrupção de serviço do banco de dados.
3) Teste: Antes do lançamento, o software deve ser testado exaustivamente para garantir que não há vulnerabilidades de segurança. Isso pode incluir a realização de testes de penetração (pentest), auditorias de segurança e revisões de código. Clique aqui para acessar a nossa formação sobre segurança ofensiva, que inclui a prática do pentest.
Exemplo prático: no caso do aplicativo de e-commerce, os testes de penetração podem ser realizados para tentar explorar possíveis vulnerabilidades, como a exploração de campos de entrada não validados. Além disso, as auditorias de segurança podem ser usadas para verificar a conformidade com os padrões de segurança, como a PCI DSS (usada para garantir a segurança em soluções envolvendo pagamentos eletrônicos).
4) Manutenção e melhoria contínua: Após o lançamento, a segurança do software deve ser continuamente monitorada e melhorada. Isso pode envolver a aplicação de patches de segurança, a resposta a incidentes de segurança e a atualização regular das medidas de segurança conforme novas ameaças emergem.
Exemplo prático: com o aplicativo de e-commerce em funcionamento, uma resposta rápida e efetiva a incidentes de segurança pode minimizar o impacto de qualquer violação de dados. Além disso, o software pode ser regularmente atualizado para incluir novas medidas de segurança à medida que novos tipos de ameaças são descobertos.
Assim, a implementação do Security By Design propõem uma abordagem de segurança holística e contínua, que começa desde a fase de planejamento e continua mesmo após o software estar em operação.
Conclusão
Em resumo, o Security by Design é uma abordagem essencial na criação de software seguro, pois incorpora considerações de segurança desde a fase de planejamento até a manutenção pós-lançamento.
Ao evitar a necessidade de correções caras e demoradas e aumentar a resistência do software contra ataques, essa metodologia oferece inúmeras vantagens sobre a implementação tardia de segurança. Com o crescimento contínuo das ameaças cibernéticas e a crescente importância dos dados na nossa sociedade, o Security By Design torna-se cada vez mais vital para o desenvolvimento de softwares.
Assim, podemos fechar o nosso artigo com a seguinte reflexão:
“Se vai programar, vai ter que planejar; se vai planejar, não deixe de planejar a segurança.”
Ou seja, já que você está planejando seu software, incluir a segurança desde o início é uma etapa natural que, apesar de aumentar um pouco o esforço, proporcionará benefícios imensuráveis na qualidade e confiabilidade do software.