Scala para engenharia de dados: primeiros passos
Introdução ao Scala e seu papel na Engenharia de Dados
A engenharia de dados é uma área essencial no processamento e análise de grandes volumes de dados. Para lidar com essa demanda, é fundamental contar com linguagens de programação eficientes. No contexto da engenharia de dados, podemos utilizar diversas linguagens e entre as mais utilizadas temos Python, Java e Scala. Dentre elas, o Scala é bastante interessante e muitas big techs, como Nubank e Airbnb, utilizam para solucionar seus desafios de Big Data.
O Scala foi criado por Martin Odersky em 2001 com o objetivo de ser uma linguagem moderna e versátil. Martin queria combinar os melhores aspectos da programação orientada a objetos com os da programação funcional em uma única linguagem. O nome "Scala" vem de "Scalable Language" (linguagem escalável), pois a ideia era que a linguagem pudesse ser dimensionada para diferentes tamanhos de projetos e sistemas.
Uma das principais razões pelas quais o Scala se destaca na engenharia de dados é a sua integração com o Apache Spark, um dos frameworks mais populares para processamento distribuído de Big Data. O Spark foi originalmente desenvolvido em Scala e fornece uma API nativa para essa linguagem, aproveitando ao máximo seus recursos e capacidades. O Scala e o Spark se complementam de maneira eficiente, permitindo que engenheiros de dados tenham um alto desempenho para processamento e análise de dados em larga escala.
Sintaxe Básica do Scala
A sintaxe básica do Scala é um universo rico e abrangente, que envolve desde a definição de tipos de dados e variáveis até o domínio das estruturas de controle, a criação de funções e métodos poderosos e a manipulação de coleções de dados. Neste artigo de Scala, mergulharemos em cada um desses elementos essenciais que usamos na engenharia de dados e em outras aplicações.
Tipos de dados e variáveis
No Scala, os tipos de dados e variáveis são fundamentais para armazenar e manipular informações em um programa. Podemos usar uma variedade de tipos de dados básicos, como Int (para números inteiros), Double (para números de ponto flutuante), Boolean (para valores true/false) e String (para texto).
val idade: Int = 25 // Declaração explícita de uma variável idade do tipo Int
val nome = "João" // Inferência automática do tipo String
val salario: Double = 2500.50 // Declaração explícita de uma variável salario do tipo Double
O interessante de declarar algo em Scala é que temos dois tipos de variável var
e val
. Quando criamos uma variável em Scala do tipo var
podemos alterar ela durante o nosso código, mas a val
é imutável, se não há uma boa razão para alterar o valor das suas variáveis, devemos sempre utilizar o tipo val
. Isso é uma característica da imutabilidade, uma prática recomendada em programação funcional, pois torna o código mais seguro a efeitos colaterais inesperados.
Trabalhando com coleções (listas, conjuntos, mapas)
Em Scala, é fundamental entender como lidar com coleções de dados, como listas, conjuntos e mapas. Essas estruturas de dados são amplamente utilizadas para armazenar e manipular informações de forma eficiente. Vamos explorar brevemente cada uma dessas coleções.
1. Listas
Uma lista é uma coleção ordenada de elementos, permitindo duplicatas. Ela pode ser criada com a notação List(elemento1,elemento2, …)
.
val lista = List(1, 2, 3, 4, 5)
// Acessar elementos da lista
val primeiroElemento = lista(0) // Retorna 1
// Adicionar elemento à lista
val novaLista = lista :+ 6 // Retorna List(1, 2, 3, 4, 5, 6)
// Filtrar elementos pares da lista, ou seja, cujo a divisão por 2 o resto é igual a 0
val numerosPares = lista.filter(_ % 2 == 0) // Retorna List(2, 4)
Podemos aplicar uma transformação a cada elemento da lista, utilizando, por exemplo, a função .map()
.
//Multiplicando cada elemento por 2
val numerosDobrados = lista.map(_ * 2) // Retorna List(2, 4, 6, 8, 10)
2. Conjuntos
Ao contrário de uma lista, um conjunto é uma coleção não ordenada de elementos e não permite duplicatas. Eles podem ser criados usando a notação Set(elemento1, elemento2, ...)
.
val conjunto = Set(1, 2, 3, 4, 5)
// Verificar se um elemento está presente no conjunto
val contemTres = conjunto.contains(3) // Retorna true
// Adicionar elemento ao conjunto
val novoConjunto = conjunto + 6 // Retorna Set(1, 2, 3, 4, 5, 6)
// União de conjuntos
val outroConjunto = Set(4, 5, 6, 7, 8)
val uniao = conjunto.union(outroConjunto) // Retorna Set(1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8)
3. Maps
Um "mapa" é uma coleção de pares chave-valor, onde cada chave é única. Para os programadores em Python, Map
lembra bastante um dicionário. Um Map pode ser criado com a notação Map(chave1 -> valor1, chave2 -> valor2, ...)
.
val mapa = Map("a" -> 1, "b" -> 2, "c" -> 3)
// Acessar valor através da chave
val valorB = mapa("b") // Retorna 2
// Adicionar novo par chave-valor ao mapa
val mapanovo= mapa + ("d" -> 4) // Retorna Map("a" -> 1, "b" -> 2, "c" -> 3, "d" -> 4)
// Remover par chave-valor do mapa
val outroMapa = mapanovo - "c" // Retorna Map("a" -> 1, "b" -> 2)
Integração com frameworks de Big Data
O Scala é amplamente utilizado na integração com frameworks de Big Data, sendo o Apache Spark o principal exemplo. Essa combinação poderosa permite o processamento distribuído de dados em larga escala. Com o Scala, podemos expressar transformações e manipulações de dados de forma concisa, aproveitando a API do Spark. Essa integração permite realizar operações complexas, como filtragem, mapeamento e junção de dados distribuídos, possibilitando análises e manipulações eficientes.
Além disso, o Scala também é bastante utilizado em conjunto com a plataforma Databricks. O Databricks é um ambiente de colaboração baseado em nuvem, projetado especificamente para o desenvolvimento de aplicações de Big Data e Machine Learning. Com o Scala, os engenheiros de dados podem tirar o máximo proveito do Databricks para criar pipelines de dados avançados, explorar conjuntos de dados de maneira interativa e executar análises sofisticadas. A plataforma Databricks oferece suporte nativo ao Scala, facilitando o desenvolvimento e a implantação de soluções de engenharia de dados de alto desempenho.
Essas integrações possibilitam análises e manipulações eficientes de dados, permitindo o desenvolvimento de soluções escaláveis na área de engenharia de dados. Mas é somente com Scala que temos soluções eficientes? A resposta é não, podemos desenvolver soluções usando Spark com Python também, através da API PySpark, por exemplo, por isso é interessante entender as diferenças dessas duas linguagens.
Scala vs Python: Comparando as linguagens na Engenharia de Dados
Mesmo com ganhos de performance, poucas pessoas engenheiras de dados começam sua carreira aprendendo Scala. Para início de uma jornada em dados, a curva de aprendizado do Python é muito interessante, sendo um canivete suiço para diversas áreas de dados. Ao considerar a escolha entre Scala e Python para a engenharia de dados, é importante analisar as vantagens e desvantagens de cada uma das linguagens. Embora o Python seja amplamente adotado e conhecido por sua versatilidade, o Scala oferece benefícios específicos que podem ser valiosos para a manipulação de dados em larga escala.
Vantagens do Scala
- Desempenho: o Scala é executado na máquina virtual Java (JVM), o que permite um desempenho eficiente e otimizado. Isso é especialmente benéfico ao lidar com grandes volumes de dados e processamento distribuído.
- Integração com o Apache Spark: o Spark, um dos principais frameworks de processamento distribuído de Big Data, foi originalmente desenvolvido em Scala. O Scala possui uma API nativa para o Spark, facilitando a construção de aplicações escaláveis e de alto desempenho para engenharia de dados.
- Programação funcional: o Scala suporta programação funcional de forma nativa, o que é útil para lidar com transformações complexas de dados. A programação funcional pode facilitar a expressão de lógica de manipulação de dados e facilitar a manutenção e teste de código.
- Programação Orientada a Objetos: o Scala também suporta programação orientada a objetos, dando suporte aos conceitos de classes, objetos, herança etc.
Desvantagens do Scala
- Curva de aprendizado: o Scala pode ter uma curva de aprendizado mais íngreme em comparação com outras linguagens, devido à sua sintaxe e conceitos avançados, como programação funcional e tipos de dados avançados. Isso pode exigir um investimento de tempo e esforço para dominar a linguagem.
- Ecossistema de bibliotecas: embora o Scala tenha um conjunto sólido de bibliotecas para engenharia de dados, o ecossistema de bibliotecas pode não ser tão vasto quanto o do Python. Isso significa que pode haver menos opções prontas para uso e pode ser necessário desenvolver mais códigos personalizados em alguns casos.
- Pouca adoção: uma desvantagem do Scala para engenharia de dados é a sua menor adoção e popularidade em comparação a linguagens como Python ou Java. Embora o Scala tenha ganhado destaque na comunidade de desenvolvimento de software e engenharia de dados, especialmente devido à sua integração com o Apache Spark, seu uso ainda pode ser menos comum.
Ao considerar o uso do Scala na engenharia de dados, é importante ponderar essas vantagens e desvantagens em relação aos requisitos específicos do projeto e à experiência da equipe. O Scala pode ser uma escolha poderosa para aplicações que requerem alto desempenho, processamento distribuído e manipulação complexa de dados, desde que se esteja disposto a investir no aprendizado da linguagem e lidar com um ecossistema de bibliotecas relativamente menor. Embora possa exigir um investimento maior em aprendizado, o Scala oferece recursos essenciais para lidar com desafios complexos, por isso é uma excelente escolha para profissionais da area de Engenharia de Dados por construir soluções escaláveis e eficientes para enfrentar os constantes desafios do mundo dos dados.
Se quiser saber mais sobre essa linguagem e como ela é usada nas empresas, recomendamos esse episódio do Hipster.Tech, em que o Paulo Silveira, CEO e co-fundador da Alura, discute o assunto com o Juliano Alves, engenheiro de software na TransferWise em Londres, com a Daniela Pretuzalek, tech principal na Toughtworks, e com o Flavio Brasil, engenheiro de software no Twitter:
Créditos
- Conteúdo: Paulo Calanca
- Produção técnica: Rodrigo Dias e Millena Gená
- Produção didática: Thaís de Faria
- Designer gráfico: Alysson Manso