Governança de dados: o que é e dicas de como fazer

Governança de dados: o que é e dicas de como fazer
Pedro Henrique Campagna Moura da Silva, Daniel Siqueira
Pedro Henrique Campagna Moura da Silva, Daniel Siqueira

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O desenvolvimento das tecnologias da informação mudaram não só o dia a dia das pessoas, mas também o sistema de organização das empresas.

Essas tecnologias passaram de um meio que dava suporte às outras áreas para se tornarem também cruciais nas decisões estratégicas empresariais.

Nesse sentido, todas as decisões que permeiam a área ganham importância. Dentre elas, lidar com os dados tem se mostrado um dos maiores desafios, fazendo com que a governança de dados tenha um papel decisivo em empresas de diversos tamanhos.

Para quê serve a governança de dados

Imagine a Amazônia: verde, densa, cheia de rios. Essa mesma! Sabemos que a Amazônia é muito importante para todo o mundo e que é a partir da evapotranspiração de seus rios e da flora que saem parte da chuva que cai em outras regiões do Brasil. Dessa perspectiva, a Amazônia é o que consideramos um bem público global.

Um bem público global é algo palpável ou não e que, só de existir (ou continuar existindo), produz benefícios para diversos países e para a humanidade, em geral.

De maneira semelhante, as empresas são beneficiadas por ter um sistema de governança de dados bem estabelecido.

Assim como a floresta tropical, a governança de dados produz benefícios ativos e passivos para a organização.

Estes vão da capacidade de usar os dados para melhorar processos internos, do aumento da competitividade, da transparência e eficiência das ações da empresa até o cumprimento de legislações, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e o Marco Civil da internet.

Saber para que serve não é o bastante. É preciso entender melhor o que é a governança de dados.

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O que é governança?

Quando comecei meus estudos nessa área, sempre surgia uma dúvida: mas o que é governança mesmo? E essa, na verdade, é uma boa pergunta para começar.

Existem algumas definições de governança, mas a que vamos utilizar aqui é mais ampla.

A governança é o conjunto de decisões e responsabilidades explícitas e implícitas de uma instituição para com seus clientes, parceiros e a sociedade.

Em outras palavras, é o pensar em como as decisões tomadas por uma organização (e suas consequências) se relacionam com seus objetivos e as partes envolvidas.

Em um primeiro momento, essa definição pode ser muito ampla, dificultando pensar em algo mais concreto. Então, vamos a um exemplo:

Considere uma pessoa dona de uma empresa de produtos de cuidados pessoais. Ela sabe que uma das preocupações de sua clientela é se a empresa faz testagem em animais, por questões éticas (responsabilidades implícitas).

Para as pessoas parceiras – fornecedoras e investidoras – também não é interessante se associar a uma empresa que conduz essas práticas.

A decisão de não realizar testes em animais, além de ética, é melhor quando pensamos tanto no fim (a clientela) quanto nas parcerias.

Quando, no processo decisório, consideramos todas pessoas envolvidas e interessadas na questão, estamos praticando a governança.

A importância de dados nos processos de gestão

Uma das maiores revoluções envolvendo os dados aconteceu quando as empresas começaram a olhar e se embasar neles para tomar decisões.

Isso pode ter se tornado comum, mas representou uma grande mudança no modelo de negócio das empresas.

Antes, boa parte de decisões eram tomadas a partir da visão individual ou coletiva de um determinado grupo de pessoas – gestoras – baseadas em suas experiências de vida e crenças pessoais.

Esse modelo de tomada de decisão tem algumas características:

Ele falha quando as pessoas gestoras estão erradas

A responsabilidade da falha é concentrada na gestão. Por outro lado, quando olhamos para os dados para tomar as decisões, ocorre uma mudança no processo, pois elas são baseadas numa percepção mais exata da realidade e tendem a acertar mais a longo prazo.

Decisões baseadas em dados têm menos vieses que a experiência das pessoas, além de serem melhor embasadas.

Podemos ver exemplos dessa metodologia em grandes empresas como Google, Facebook e Apple que têm mostrado resultados de alto impacto.

Entretanto, ela também traz a necessidade de tomar diversas medidas para assegurar que os dados estão de acordo com a realidade e são completos, seguros e disponíveis.

Para garantir esse tripé, há a necessidade de gerir e refletir diversas questões, tais como:

  • Quem tem acesso aos dados?
  • Quais as medidas de proteção em relação aos dados?
  • Quais dados devem ser armazenados e quais devem ser deletados?
  • Quais as consequências de ter dados armazenados?
  • Quais os usos desses dados na empresa?
  • Quais os riscos que envolvem esses dados?
  • É justamente para responder essas questões que surgiu a área de Governança de Dados.

A governança pode ser definida como o processo que gera acesso, gestão, armazenamento e proteção dos dados de uma organização, tendo em vista todas as partes interessadas, para garantir a completude, disponibilidade e segurança dos dados.

Quem é a pessoa responsável pela governança de dados?

A governança de dados envolve diversas pessoas e papéis importantes dentro da organização. Vamos entender quem faz o quê:

Proprietária de dados

A proprietária de dados é a pessoa responsável por um conjunto específico de dados na organização.

Suas principais funções são definir regras e padrões, estabelecendo políticas de qualidade, segurança e uso dos dados.

Ela também aprova acessos, decidindo quem pode acessar e modificar os dados, além de garantir conformidade, assegurando que os dados estão em conformidade com as regulamentações e normas internas.

Organizadora de dados

A organizadora de dados implementa as políticas e diretrizes definidas pela proprietária de dados. Suas responsabilidades incluem a gestão da qualidade dos dados, monitorando e melhorando a precisão, consistência e integridade dos dados.

Ela também cuida da manutenção de metadados, gerenciando e atualizando os metadados para garantir que os dados estejam bem documentados e acessíveis, além de oferecer treinamento e suporte, capacitando os usuários sobre as práticas de governança de dados e fornecendo suporte contínuo.

Operadoras de dados

As operadoras de dados lidam diretamente com os dados no dia a dia. Suas principais funções são a entrada e atualização de dados, inserindo, modificando e excluindo dados conforme necessário.

Elas aderem às políticas, seguindo as diretrizes estabelecidas para garantir a qualidade e segurança dos dados, e relatam problemas, notificando a organizadora de dados sobre quaisquer problemas ou inconsistências encontradas.

Comitê de governança de dados

O comitê de governança de dados é um grupo formado por representantes de diversas áreas da organização, como TI, compliance, operações e negócios. Este comitê é responsável pela supervisão geral da governança de dados.

Suas responsabilidades incluem o desenvolvimento de estratégias, formulando e revisando estratégias de governança de dados alinhadas com os objetivos organizacionais.

Eles também tomam decisões, resolvendo conflitos e tomando decisões sobre questões críticas relacionadas à governança de dados.

Além disso, monitoram e avaliam, acompanhando o desempenho das iniciativas de governança e implementando melhorias contínuas.

E, por fim, garantem a comunicação, assegurando que as políticas e práticas de governança de dados sejam comunicadas e compreendidas por toda a organização.

Esses papéis são essenciais para uma estrutura robusta de governança de dados, cada um contribuindo de forma única para a gestão eficaz e segura dos dados organizacionais.

E qual o papel da legislação nisso?

Se a governança de dados tem como preocupação pensar nas partes interessadas no processo decisório, uma das instituições incluídas em todo e qualquer desses processos são os países.

É interesse deles garantir, juridicamente, que as proteções legais e de direitos também sejam preservadas quando falamos no meio digital e no uso dos dados de usuários(as).

A partir disso, alguns já apresentam legislações específicas voltadas para essa área. Uma das mais importantes internacionalmente, nesse sentido, é a Regulação Geral de Proteção de Dados (ou General Data Protection Regulation, GDPR) – da União Europeia, na qual se baseou a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) brasileira.

Ambas buscam proteger os dados de usuários(as) contra o uso indiscriminado por qualquer agente.

Um ponto em comum e bastante progressista dessas legislações é que, nelas, a propriedade dos dados não é de quem os coleta ou os usa, e sim da pessoa que gerou os dados.

Essa propriedade implica que ela agora tem mais poder sobre os dados, sendo possível, por exemplo, saber exatamente quais dados as empresas detêm.

Além disso, o Brasil conta com uma outra legislação sobre a internet que tem a ver com o assunto: o Marco Civil da Internet que também versa sobre a proteção de dados pessoais na internet.

Essa lei tem um propósito mais geral de organizar, juridicamente, o uso da internet e produz sobre os dados diferentes responsabilidades tanto de usuários(as) quanto das operadoras de telefonia e comunicação que disponibilizam o acesso à internet.

7 etapas para fazer a governança de dados segundo Gartner

Infográfico da Alura com 7 etapas para governança de dados, destacando cada etapa com ícones e textos em verde sobre fundo escuro. Título no topo e logotipo da Alura no canto inferior esquerdo.

Gartner é uma renomada e importante empresa de pesquisa e consultoria em tecnologia da informação.

Ela estruturou sete passos para a governança de dados. Essa organização é essencial para garantir uma gestão eficaz e alinhada aos objetivos estratégicos das organizações. Vamos conhecer esses passos.

Alinhar a governança com os objetivos do negócio

Para começar, é fundamental que a governança de dados esteja alinhada com os objetivos do negócio. Isso significa que todas as iniciativas de governança devem apoiar e promover as metas estratégicas da organização.

Quando a governança de dados está bem alinhada com os objetivos empresariais, é mais fácil obter o apoio dos principais stakeholders e garantir que os esforços de governança gerem valor real para a empresa.

Desenvolver modelo de prestação de contas

Desenvolver um modelo de prestação de contas é crucial. Isso envolve definir claramente quem é responsável por cada aspecto da governança de dados.

Com papéis e responsabilidades bem definidos, fica mais fácil garantir que todos saibam o que é esperado deles e como suas ações impactam a qualidade e a segurança dos dados.

Este modelo de prestação de contas ajuda a promover a responsabilidade e a transparência em toda a organização.

Implementar governança com base em confiança

A implementação da governança de dados deve ser baseada em confiança. Isso significa criar um ambiente onde os colaboradores se sintam seguros para compartilhar informações e seguir as políticas de governança de dados.

A confiança é construída por meio de comunicação aberta, educação contínua e um compromisso claro com a proteção e o uso ético dos dados.

Quando os funcionários confiam nas práticas de governança de dados, é mais provável que se engajem e colaborem ativamente.

Valorizar ética e transparência

É essencial valorizar a ética e a transparência em todas as iniciativas de governança de dados. Isso inclui garantir que os dados sejam usados de maneira ética, respeitando a privacidade e os direitos dos indivíduos.

A transparência envolve ser claro sobre como os dados são coletados, armazenados e utilizados.

Promover uma cultura de ética e transparência ajuda a construir a confiança entre os stakeholders e a sociedade em geral, além de garantir a conformidade com as regulamentações.

Considerar gestão de risco e segurança da informação

Considerar a gestão de risco e a segurança da informação é uma etapa vital na governança de dados.

Isso envolve identificar e mitigar os riscos associados ao uso e armazenamento de dados, bem como implementar medidas robustas de segurança para proteger os dados contra ameaças e violações.

A gestão de risco e a segurança da informação garantem que os dados estejam protegidos, reduzindo a probabilidade de incidentes de segurança e garantindo a continuidade dos negócios.

Estabelecer métricas de desempenho

Estabelecer métricas de desempenho é crucial para medir o sucesso das iniciativas de governança de dados.

Essas métricas devem ser alinhadas com os objetivos de negócios e permitir o monitoramento contínuo da qualidade, segurança e uso dos dados.

Com métricas claras, é possível identificar áreas de melhoria e tomar decisões informadas para aprimorar a governança de dados.

Promover a melhoria contínua

Por fim, promover a melhoria contínua é essencial para manter a eficácia da governança de dados.

Isso significa revisar e atualizar regularmente as políticas, processos e práticas de governança para garantir que estejam alinhados com as mudanças nos objetivos de negócios, regulamentações e tecnologias.

A melhoria contínua ajuda a organização a se adaptar e evoluir, garantindo que a governança de dados permaneça relevante e eficaz ao longo do tempo.

Ferramentas de governança de dados

As ferramentas de governança de dados são essenciais para ajudar as organizações a gerenciar e proteger seus dados de maneira eficiente e segura.

Essas ferramentas oferecem funcionalidades que vão desde a catalogação e qualidade dos dados até a segurança e conformidade regulatória.

Aqui estão algumas das principais categorias de ferramentas de governança de dados:

Data Catalogs

Os catálogos de dados são ferramentas que permitem a organização e descoberta de dados dentro da empresa. Eles ajudam a mapear e descrever os dados, facilitando a localização e o uso por diferentes usuários.

Essas ferramentas geralmente oferecem recursos como busca avançada, metadados detalhados, e integração com outras fontes de dados.

Ferramentas de qualidade de dados

As ferramentas de qualidade de dados são projetadas para monitorar e melhorar a precisão, consistência e integridade dos dados.

Elas identificam e corrigem erros, duplicações e inconsistências nos dados, garantindo que a informação seja confiável. Exemplos populares incluem Talend, Trifacta e IBM InfoSphere QualityStage.

Soluções de Gestão de Dados Mestres (MDM)

As soluções de MDM ajudam a garantir que a organização trabalhe com uma única versão confiável dos dados mestres.

Elas centralizam a gestão dos dados mestres, permitindo uma visão consistente e precisa das principais entidades de negócios, como clientes, produtos e fornecedores.

Exemplos de soluções MDM são Informatica MDM, SAP Master Data Governance e Oracle MDM.

Ferramentas de segurança e privacidade de dados

Essas ferramentas são fundamentais para proteger os dados contra acessos não autorizados e garantir a conformidade com regulamentações de privacidade, como GDPR e LGPD.

Elas oferecem funcionalidades como criptografia, mascaramento de dados, gestão de acessos e auditorias de segurança. Exemplos incluem Varonis, Spirion e Symantec Data Loss Prevention.

Plataformas de governança de dados

As plataformas de governança de dados oferecem uma abordagem integrada para gerenciar todos os aspectos da governança de dados, desde a catalogação e qualidade até a segurança e conformidade.

Elas proporcionam uma visão unificada e centralizada dos dados, facilitando a implementação e monitoramento das políticas de governança. Exemplos incluem Collibra, IBM Watson Knowledge Catalog e Data.World.

Ferramentas de Gestão de Metadados

As ferramentas de gestão de metadados ajudam a documentar, rastrear e gerenciar os metadados dos dados.

Elas garantem que todas as informações sobre a origem, uso e transformação dos dados sejam facilmente acessíveis, o que é crucial para uma governança eficaz. Exemplos incluem Informatica Metadata Manager, Alation e Microsoft Azure Data Catalog.

Imagem com logotipos de três ferramentas: Informatica, Alation e Azure Data Catalog, sobre fundo escuro com detalhes em verde e ciano.

Essas ferramentas são indispensáveis para construir uma estrutura robusta de governança de dados, permitindo que as organizações gerenciem seus dados de maneira eficiente, segura e conforme as regulamentações.

Como estudar e se desenvolver em governança de dados

Se você quer estudar e se desenvolver em governança de dados, aqui estão algumas dicas:

Livros

  • "Data Governance for Dummies" - Jonathan Geiger and Paul Kirch Parte da popular série "For Dummies", este livro oferece uma introdução acessível e prática à governança de dados.

É uma ótima opção para quem está começando e quer uma compreensão clara dos conceitos e práticas básicas.

  • "Data Governance: How to Design, Deploy and Sustain an Effective Data Governance Program" - John Ladley

Este livro é uma referência completa para quem quer entender como implementar um programa de governança de dados eficaz. John Ladley explora desde os fundamentos até as melhores práticas para criar e sustentar uma governança de dados robusta.

  • "Non-Invasive Data Governance: The Path of Least Resistance and Greatest Success" - Robert S. Seiner

Robert Seiner apresenta um método de governança de dados que se integra nas operações diárias da empresa sem causar grandes interrupções. O foco é em métodos não invasivos que facilitam a aceitação e a implementação da governança de dados.

  • "Data Governance: The Definitive Guide" - Evren Eryurek, Uri Gilad, Valliappa Lakshmanan, and Jessi Ashdown

Publicado pela O'Reilly, este livro oferece uma visão abrangente sobre a governança de dados, cobrindo aspectos técnicos e organizacionais.

Os autores, com vasta experiência em grandes empresas de tecnologia, compartilham práticas e estratégias eficazes para implementar a governança de dados.

Cursos da Alura

Aqui na Alura você tem uma formação completa sobre governança de dados: Fundamentos de Governança de Dados.

Nela você terá passos estruturados com cursos e artigos, para você se desenvolver nesta área, focando nas bases de governança de dados e nas áreas que mais impactam as organizações.

Conclusão

Neste artigo você aprendeu sobre a Governança de Dados, para que serve, o que é e quais as vantagens que isso traz à uma organização.

Nesse momento, o ponto principal é entender como essa questão da governança impacta o trabalho de profissionais que trabalham direta e indiretamente com esses dados.

E é exatamente esse o desafio que muitas organizações enfrentam. Não é fácil alinhar a área de dados e também a gestão no sentido de desenvolver uma cultura organizacional em volta dos dados. Mas os benefícios de se fazer isso são grandes e há uma pressão jurídica para atender a legislação.

Pedro Henrique Campagna Moura da Silva
Pedro Henrique Campagna Moura da Silva

Técnico em Informática e Analista de Relações Internacionais, trabalhou com desenvolvimento de software e ciência de dados voltados para pesquisa. Atualmente estuda governança de dados e tenta sempre construir pontes entre a tecnologia e o internacional.

Daniel Siqueira
Daniel Siqueira

Daniel é instrutor na escola de Dados e professor de Matemática, Física, Química e Inglês. Tem verdadeira paixão em aprender coisas e assuntos novos, e transmitir seus conhecimentos.

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