Metaprogramação em Java? O papel do APT.

Metaprogramação em Java? O papel do APT.
peas
peas

Compartilhe

Em 2004, com o lançamento do Java 5, muitas novidades entraram pra linguagem. As anotações são um recurso hoje fundamental, que utilizamos como metadados. O Hibernate, junto com a JPA/EJB 3.0, popularizaram muito o uso das anotações para afetar o comportamento em tempo de execução do framework em relação às suas classes anotadas. Em linguagens dinâmicas isso vai além. O Ruby utiliza muito metadata, até mesmo para gerar acessores e modificadores de atributos em tempo de execução:

 class ContaPagar attr\_accessor :descricao, :valor, :data end 

Como poderíamos fazer um exemplo simples desse em Java? Infelizmente não é algo trivial como o uso de anotações feito pelo Hibernate/JPA, pois, mesmo usando manipulação de bytecode, não adianta gerar os getters ou setters em tempo de execução, já que não conseguiremos utilizá-los pela característica de tipagem estática da linguagem. Precisaremos usar uma abordagem em tempo de compilação.

Banner da promoção da black friday, com os dizeres: A Black Friday Alura está chegando. Faça parte da Lista VIP, receba o maior desconto do ano em primeira mão e garanta bônus exclusivos. Quero ser VIP

O JAX-WS utiliza bastante de anotações para a geração de código cliente dos webservices através de duas feramentas: o wsimport para trabalhar com WSDL e o Annotation Processor Tool (APT) para trabalhar com código fonte Java. Através do APT, incluso apenas como ferramenta no Java 5, você pode criar Processadores de anotações que são acionados pelo APT e podem gerar novos códigos Java.

O Java 6 leva o APT para um outro nível: além de fazer parte da API (não apenas uma ferramenta com.sun) agora é possível que um Processor sejá executado pelo próprio compilador, sem a necessidade de executá-lo a parte. Para isso, basta que exista um jar no seu classpath que contenha o arquivo javax.annotation.processing.Processor dentro de META-INF/services, fazendo com que os processadores lá citados sejam executados a cada compilação, possivelmente gerando novo código Java.

Onde isso é útil?

Um dos aguardados recursos da JPA 2.0 no Java EE 6 é o sistema de Criteria parecido com o do Hibernate, que pode ser agora utilizado de uma maneira typesafe sem o uso de Strings. Como iremos nos referenciar à um atributo de uma classe sem String? Para uma classe, sabemos que podemos escrever NomeDaClasse.class, e um Class<NomeDaClasse> carregado pelo mesmo classloader será retornado.

Apesar de ser um dos 25 recursos mais pedidos pela comunidade, o Java não possui suporte para literais de construtores, métodos e atributos. Isso é, se quero pegar uma referência para um Method que tenho certeza absoluta que existe, preciso de qualquer forma utilizar a API de reflection e lidar com as checked exceptions e diversos passos necessários. Uma forma de contornar isso e fazer a Criteria typesafe da JPA 2.0 ser viável foi o uso do StaticMetaModel.

Imagine que para a classe ContaPagar a seguir:

 @Entity public class ContaPagar {

@Id @GeneratedValue private int id;

private String descricao;

private Double valor;

@Temporal(TemporalType.DATE) private Calendar data;

@ManyToOne private Fornecedor fornecedor;

private boolean pago;

// metodos } 

Precisaríamos criar uma classe paralela, a ContaPagar_, que contém atributos estáticos que de certa forma representam os atributos persistidos da nossa entidade JPA:

 @StaticMetamodel(ContaPagar.class) public abstract class ContaPagar\_ {

public static volatile SingularAttribute<ContaPagar, Integer> id; public static volatile SingularAttribute<ContaPagar, String> descricao; public static volatile SingularAttribute<ContaPagar, Double> valor; public static volatile SingularAttribute<ContaPagar, Calendar> data; public static volatile SingularAttribute<ContaPagar, Fornecedor> fornecedor; public static volatile SingularAttribute<ContaPagar, Boolean> pago; } 

Daria um certo trabalho manter a estranha classe ContaPagar_ atualizada de acordo com toda modificação na classe ContaPagar. A solução é utilizar um gerador de código, e esse gerador é um processador do APT, que será invocado toda vez que o javac rodar (no Eclipse é necessário ativar o APT). O Hibernate 3.5-beta2 já disponibiliza esse gerador (mas com limitado suporte ao Criteria do JPA2), assim como o EclipseLink. Dessa forma podemos selecionar o atributo valor de todas as ContaPagar, com garantia de tipos através de ContaPagar_.valor:

 CriteriaBuilder cb = manager.getCriteriaBuilder(); CriteriaQuery cq = cb.createQuery(Double.class); Root cpagar = cq.from(ContaPagar.class); CriteriaQuery select = cq.select(cpagar.get(ContaPagar\_.valor)); return this.manager.createQuery(select).getResultList(); 

Se isso é uma vantagem ou não, é outra discussão: alguns dizem que esse ganho de tipagem forte na Criteria não compensa a quantidade de código extra, além de que seus testes unitários pegariam erros no caso de String erradas. Diferente do que parece a primeira vista, o código não é refatorável da maneira clássica: renomear o atributo valor para valorTotal vai gerar um novo atributo ContaPagar_.valorTotal, mas quem se referenciava ao atributo com nome antigo não será refatorado, pois refatoramos o nome do modelo, e não do metamodelo. As ferramentas devem evoluir para conseguir lidar com casos como esse.

Mas seria essa metaprogramação tão poderosa quanto a do Ruby, onde métodos são inclusos na classe de acordo com o uso de metadados (como o attr_acessor)?

O Sérgio Lopes e o Nico Steppat da Caelum me apresentaram ao lombok, um processador do APT que, através de recursos da API não pública da JVM da Sun, gera código na própria classe que está sendo compilada:

meta programação com Java e APT

À esquerda um código que não possui métodos, à direita uma surpresa: o outline do Eclipse acusando a exitência de métodos no bytecode dessa classe.

Com isso podemos gerar métodos em tempo de compilação que podem ser acessados pela sua IDE, fornecendo até mesmo code completion! Isso abre caminho para recursos que se assemelham aos mixins, e com tipagem estática, e ao mesmo tempo para prejuízos parecidos com os do monkey patching. A força de uma linguagem mais dinâmica permitiu a criação do grails com recursos similares aos de ActiveRecord do rails, onde - no caso do rails - atributos do banco podem ser acessados diretamente sem requerer a declaração no modelo.

O APT abre caminho para implementações similares na plataforma Java usando a própria linguagem, alguém poderá em um futuro próximo adicionar os getters e setters necessários para seu modelo baseado na engenharia reversa de tabelas, relacionamentos e configurações, como o Rails faz, mas com algumas limitações. Há também a questão de que se isso é útil para uma linguagem como Java.

Veja outros artigos sobre Programação