Buscando referências na fotografia

Buscando referências na fotografia

Quando estamos começando a fotografar, temos aquele pensamento que devemos buscar referências em outros fotógrafos da mesma área e então começamos a consumir o tempo todo apenas esse tipo de referência. É muito importante entendermos o que está sendo produzido atualmente e estudar também os grandes mestres. Essas pessoas são conhecidas por estarem fazendo com maestria seu trabalho e conseguindo comunicar suas narrativas de forma brilhante e quando estamos começando, precisamos de um ponto de partida. Nada mais justo. Mas será que essa é a única fonte de referência que podemos buscar ou corremos o risco de cair no erro de só reproduzir o que já está sendo feito?

Quando entramos no processo criativo e queremos criar imagens que nos representam, devemos lembrar que colocamos nessas imagens nossas experiências, nossa cultura, nossos gostos e aprendizados. Assim vamos criando nossa semiótica e construindo nosso inconsciente que irá transbordar na nossa fotografia. Termos noção que as nossas experiências fazem com que sejamos seres únicos no mundo é entender que ela nos ajuda a criar a nossa identidade e é o que vai trazer o nosso diferencial.

Estudando outros fotógrafos

Quando estamos começando os estudos, temos a tendência de copiar outros profissionais. Isso é normal e muitas vezes se dá por estarmos perdidos e não sabermos para onde ir e nem qual é a nossa identidade fotográfica. Queremos fazer belas fotos. Então olhe muitos trabalhos, estude esses profissionais e porque eles são considerados grandiosos. Estude os clássicos, os modernos e a partir daí você vai começar a separar o que você gosta e o que você não gosta.

Uma dica importante é: não é porque um artista é muito famoso que você precisa gostar dele ou de tudo o que ele faz. O interessante é começar a ter um olhar sobre o que você gosta dele.

  • Você gosta dos planos que ele trabalha?
  • Da iluminação que ele usa?
  • Da colorização das imagens?
  • Da produção e composição?
  • Das lentes que ele usa?

Vão ter infinitas particularidades e quando conseguimos separar elas, vamos criando a nossa identidade e passamos a não reproduzir mais uma cópia de outros trabalhos. Outros artistas servem para nos inspirar e ajudar a aprimorar a nossa técnica.

Procure saber o que fotógrafos de outras áreas estão produzindo. Olhar outras fontes pode trazer grandes insights e agregar novidades no seu trabalho. Fotógrafos de arquitetura podem te ensinar grandes dicas de enquadramento e perspectiva, por exemplo, se você quiser fazer selfies bacanas na sua casa.

E seguindo essa mesma linha de raciocínio, procure referências fora do eixo hegemônico. Somos bombardeados por uma estética estadunidense e européia (produzem coisas incríveis), mas você já procurou fotógrafos asiáticos, africanos e sul americanos? Vamos encontrar um mundo novo de comunicação e estética que pode abrir a sua mente para muitas possibilidades criativas.

Saindo da fotografia, podemos aprender muito com outras artes como o cinema, séries, videoclipes e pintura. Através deles podemos aprender sobre quase todas as áreas da fotografia.

Nos exemplos abaixo, temos alguns frames de filmes, séries ou clipes que nos ensinam muito sobre composição e narrativas. Vamos a eles:

  • O gambito da rainha
Mulher segurando um frasco de remédios em um quarto escuro em frente a uma mesa sendo iluminada por velas.
  • Moonlight
Menino olhando para a câmera por cima dos ombros em frente ao mar na penumbra de final do dia.
  • Parasita
Família (mãe, pai e um casal de filhos) sentada ao chão de um apartamento cheio de caixas de pizza.
  • Clipe Apeshit Beyoncé
Escadaria do museu do Louvre onde Beyoncé e Jay Z se encontram ao centro e em cima da escada e bailarinos estão deitados espalhados ao longo da escada.

Quando falamos sobre pinturas, uma excelente forma de estudo da luz é a época barroca. Quando analisamos os quadros produzidos nessa época, podemos aprender muito sobre a luz natural e também é uma excelente fonte de ideias para estudo de mãos. Na fotografia sempre temos dificuldade de como posicionar e o que fazer com as mãos e quadros de 1600 podem nos dar essas dicas. Vamos a alguns exemplos:

Imagem 1 - Homem sentado à mesa segurando frutas; Imagem 2 - Mulher em pé de vestido longo; Imagem 3; Mulher sentada apoiando o rosto com a mão.
Imagem 4 - Homens ao redor de uma mesa se servindo de pão; Imagem 5- Homens e mulheres sentados em um bar. Banner promocional da Alura, com um design futurista em tons de azul, apresentando dois blocos de texto, no qual o bloco esquerdo tem os dizeres:

Outras fontes de referências

Se o que faz termos imagens impactantes e com identidade é um conjunto de fatores e dentre eles nossa cultura e o que experienciamos, coisas que nos fazem entrar em contato com nossos sentimentos, que nos fazem entendermos melhor o outro ou que criam sensações vão nos ajudar nesse processo. Quanto mais recursos e bagagens tivermos, melhor será o resultado.

Um bom livro, poesia, uma comida gostosa, uma viagem, uma música… tudo isso pode ser referência. Tem músicas que nos fazem sentir euforia, alegria e outras que nos deixam melancólicos, tristes. Podemos usar como recurso para colocar esses sentimentos na imagem. Quando lembramos de um cheiro ou das relações que temos com as pessoas que convivemos, podemos usar isso como referência. As cores que compunham um lugar especial, as histórias de um livro… Tudo pode ser usado como referência.

Sebastião Salgado, quando pequeno, vivia no vale do Rio Doce em Minas Gerais. Para fugir do sol forte, ele ia para sombra, e consequentemente o sol estourava em seus olhos. A visão que ele tinha era a claridade vindo em sua direção formando altos contrastes de luz e sombra. E o resultado dessa experiência se tornou a luz que ele faz hoje nas suas fotografias. O contra luz. Sua maior marca, sua maior referência foi de sua experiência quando menino.

Conclusão

Buscar referências dentro da nossa área e estudar fotógrafos consagrados é muito importante, principalmente para aperfeiçoar a nossa técnica e começar a entender do que gostamos. Contudo, mais importante ainda é estarmos abertos e acessar todas as áreas da nossa vida, nos permitir experienciar coisas novas e usar todas as ferramentas a nosso favor. Nós colocamos na nossa imagem o que somos, o que pensamos, o que vivemos e o que sentimos. E isso tornará a nossa fotografia autoral, única e cheia de identidade.

Quer saber mais sobre o assunto?

Que tal se jogar no mundo da fotografia e aprender mais? Aqui estão algumas sugestões de cursos:


Créditos

Flavia Palazzo
Flavia Palazzo

Graduou-se em Ciências Biológicas, com mestrado em Botânica pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Trabalhou na Universidade Santa Úrsula ministrando aulas no curso de graduação. A experiência no campo da biologia abriu o caminho para a fotografia, pois o seu interesse pela vida, em diversos aspectos, determinou a forma de registrar as imagens. O seu olhar sempre curioso e direcionado para a arte transformou-se no trabalho como fotógrafa onde atua há quase 10 anos.

Veja outros artigos sobre UX & Design